TTR In The Press
Valor Econômico
June 2017, Soraia Duarte
Ambiente favorece mais concentração
Até maio, houve 17 operações de fusão e aquisição no setor de seguros no país, de acordo com levantamento feito pela consultoria Transactional Track Record (TTR). Entre elas está a compra, pela americana Assurant da carteira de varejo da AIG, negócio anunciado em maio e que abrangeu seguros de garantia estendida original, danos acidentais e roubo ou furto qualificado de bens. "Essa operação reforçou nossa presença no mercado nacional e na região Sul e Nordeste", comenta Cristiano Furtado, diretor-financeiro da Assurant. "É estratégica, pois nos ajuda a trazer volume à rede de assistência, o que se reverte em custos competitivos."
A Assurant está no Brasil há quinze anos e tem apoiado sua expansão principalmente pelo crescimento orgânico. Até então, havia ido às compras uma única vez, quando adquiriu em 2008 uma consultoria voltada ao ramo automotivo. "Naquela época, queríamos acelerar a curva de aprendizado e de desenvolvimento de produtos de garantia estendida a veículos", lembra Furtado. Já a recente aquisição, segundo ele, estava alinhada com as regiões em que a Assurant já está presente, o que "acelera o processo de sinergia com demais parceiros", explica.
Oportunidades como a encontrada pela Assurant, na avaliação de Marcio Baptista, sócio na área de fusões e aquisições, seguros e resseguros do TozziniFreire Advogados, ainda podem ser encontradas no mercado, que tem se mostrado resiliente à crise. Neste ano, em que as previsões de mercado indicam um crescimento de apenas 0,41% do Produto Interno Bruto (PIB), o setor de seguros deve se expandir 9%, crescimento similar ao observado no ano anterior. "Isso gera movimentos interessantes para as empresas", acredita Baptista.
Porém, ressalta, os interessados irão se deparar com um mercado altamente concentrado, característica provocada, em grande medida, pela forte expansão que a atividade experimentou anos atrás. Até 2013, e por um período de 15 anos, a indústria de seguros apresentou crescimentos anuais de dois dígitos, pujança que atraiu diversas empresas estrangeiras ao país.
Com a entrada desses players, veio a consolidação. "Tornou-se um mercado de gente grande", avalia Baptista. E é esse ambiente, em que um número reduzido de grandes empresas concentra a maior parte do mercado, que atualmente favorece novas operações de fusão e aquisição, no entendimento de Baptista. "Empresas que se tornaram pequenas e pouco competitivas estão procurando parceiros no Brasil e no exterior, ou querem ser compradas e sair do mercado", avalia. Assim, percebe que "há bons ativos, com preços interessantes".
David Bunce, sócio da consultoria KPMG, também observa que as fusões e aquisições seguirão ocorrendo no setor de seguros, mas em ritmo menor que o verificado em anos anteriores. Em 2016, por exemplo, o levantamento da TTR aponta 47 operações, número que dificilmente irá se repetir, tanto em virtude da atual crise econômica e política, como pelo menor número de ativos disponíveis, em decorrência da já mencionada consolidação do setor. "Tudo isso restringe o volume de negócios", observa.
Além disso, comenta ele, há algumas mudanças no próprio setor. Uma tendência que impulsionou fusões e aquisições nos últimos anos está ficando para trás: a de conglomerados financeiros saírem do negócio de seguros ou se associando a seguradoras. Esse movimento, explica, refletia estratégias de delegar, a empresas especializadas, atividades relacionadas a seguros, o que contribuía para que esses bancos se voltassem a seus negócios principais. A mais recente dessas operações ocorreu em abril, quando o Itaú Unibanco vendeu à Prudential do Brasil Seguros de Vida a carteira do negócio de seguro de vida em grupo.
Já no último mês de outubro, foi a vez de o Bradesco vender o controle do negócio de seguro de grandes riscos para a Swiss Re Corporate Solutions. Tais operações foram antecedidas por outras, como a parceria formada entre o Santander e a seguradora Zurich Financial Services Group, em 2011, e a criação do grupo segurador Banco do Brasil e Mapfre, em 2010, que resultou da união de ambas instituições.
Enquanto o movimento de saída do negócio, por parte dos bancos, vai ficando para trás, outra tendência tem ganhado força e setor e deve perdurar no curto prazo: a concentração na área de corretoras. "Ainda devem sair alguns negócios", acredita. O executivo prevê que, nesse nicho específico, devem surgir três ou quatro grupos de médio a grande porte.
Uma empresa que vem se movimentando nessa direção é a BR Insurance, que atua especificamente na corretagem de seguros. Das 17 operações de fusões e aquisições mapeadas pela TTR neste ano, cinco foram realizadas pela BR Insurance. Já em 2016, a empresa, que possui atualmente 46 corretoras, protagonizou 15 das 47 operações que ocorreram no setor de seguros. "Esses números mostram que a corretagem de fato tem se destacado nos movimentos de fusões e aquisições do setor", destaca Wagner Rodrigues, diretor de business intelligence da consultoria TTR.
O setor de seguros, lembra Baptista, do TozziniFreire, é bastante sensível ao humor da economia. Em tempos de crise, como o atual, o mercado se retrai, refletindo a decisão dos consumidores de abrir mão da contratação de seguros, priorizando outros gastos.
Mas, com a retomada, o mercado de seguros é imediatamente influenciado positivamente. E esse movimento também se reflete no apetite por fusões e aquisições. Na crise e com o mercado em baixa, surgem boas oportunidades. Com o mercado aquecido, o expressivo tamanho e o espaço que oferece para lançamento de novos produtos fazem com que fique atrativo a novas operações.
Enquanto isso não acontece, só se arrisca nesse mercado que o conhece bem. "As fusões e aquisições têm sido feitas por quem já conhece o mercado brasileiro e a sua volatilidade", afirma Baptista, do Tozzini Freire. Bunce, da KPMG, ressalta que "é um mercado complexo, com regras específicas, o que torna difícil encontrar empresas adequadas para investir”.
Source: Valor Econômico - Brazil