TTR In The Press

Revista Carta Capital

February 2015

Apesar dos números macroeconômicos ruins, aplicações de fundos em participações aumentam em 2014

Apesar dos números macroeconômicos ruins, aplicações de fundos em participações aumentam em 2014

SAMANTHA MAIA

A JULGAR PELOS NÚMEROS macroeconômicos, a situação não é animadora (leia a matéria de capa). Quedas frequentes da Bolsa de Valores de São Paulo, com volume negociado 2,9% menor em 2014 do que em 2013, estagnação do PIB e perspectiva de crescimento mínimo em 2015. No entanto, há situações que parecem discrepar. Segundo a consultoria Transactional Track Record (TTR), no ano passado a indústria de private equity e de venture capital investiu 20,5 bilhões de reais no País, 55% acima de 2013. Os setores que mais receberam recursos foram os de tecnologia, distribuição e varejo, transportes, aviação e logística, internet e marketing e publicidade. Os segmentos de infraestrutura, de agronegócio, saúde e educação estão também no radar dos fundos.

Quem explica as razões dessa aparente distorção é Cláudio Furtado, diretor do Centro de Estudos de Private Equity e Venture Capital da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (GVcepe). Para o executivo, não existe contradição entre essa estimativa e o desempenho recente da economia brasileira. "O investidor private equity olha de cinco a dez anos para a frente e isso cria um descolamento entre a decisão de investir e a situação atual do PIB do País. Mesmo em momentos de crise surgem oportunidades em determinados segmentos com potencial de melhora de gestão, inovação e conquista de novos mercados", diz Furtado. Um exemplo atual é a gestão de recursos hídricos e uso de água em indústrias e hospitais, por causa da crise de abastecimento. "Por longa data esse setor foi desprezado no Brasil porque se vivia com abundância do recurso, mas agora está no radar dos investidores."

A expectativa da TTR é de um desempenho semelhante em 2015. "Novos fundos e aceleradores de empresas startups foram criados e o Brasil demanda investimento em diversas áreas. Apenas uma conjuntura de catástrofe total, com inflação e desemprego altíssimos, seria capaz de frear esses investimentos", diz Wagner Rodrigues, gerente da TTR. Os fundos aplicam em empresas fora da Bolsa, em troca de uma participação no seu capital e na gestão. O venture capital investe em empresas novas, enquanto o foco do private equity são as companhias maduras. O objetivo é ganhar no longo prazo com a venda do ativo.

Segundo estudo realizado pelo GVcepe e pelo escritório Pinheiro Neto Advogados, com base nos anos de 2010 a 2012, o retorno médio dos veículos de investimento é de 17% ao ano. A média esconde extremos, de perdas de 56% a lucros de 188%, mas em 86% dos 285 veículos analisados, o ganho do investidor atingiu 3,4 vezes o valor aplicado, acima dos melhores retornos de fundos nos Estados Unidos em período recente, diz Furtado.

Em 2013, a Carlyle levou a operadora de turismo CVCàBolsa depois de três anos de investimento. Ao se desfazer de sua parte nas ações da companhia brasileira, calcula-se que a gestora de ativos ganhou 3,5 vezes mais do que os 380 milhões de reais aportados. No mesmo ano, a GP Investimentos vendeu sua participação na rede de ensino Estácio de Sá por um valor 2,7 vezes superior ao investido em 2008.

A alta rentabilidade deve-se ao envolvimento dos fundos com a gestão e a estratégia da empresa, segundo Clovis Me-rer, vice-presidente da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital. "Existem riscos, como em todo negócio, mas ninguém trabalha com perspectiva de retorno baixo nesse setor."

O investimento realizado de 2010 a 2012, de 7,6 bilhões de dólares ao ano em média, supera o dobro do aplicado no triênio anterior. A expectativa do GVcepe para o período de 2013 a 2015 é de um crescimento dessa indústria entre 15% e 20% ao ano no Brasil. Há espaço de sobra.

O comprometimento dos fundos, hoje em 2,74% do PIB, pode chegar a 3,5% em quatro anos, segundo o centro de estudos.

Os especialistas explicam que em período de crescimento mais baixo, os fundos ficam de olho em oportunidades ligadas ao ganho de produtividade nos setores industriais, agrícolas e de serviços. Por isso não é surpresa a presença de empresas das áreas de tecnologia, internet e logística entre as que fecharam mais negócios em 2014, segundo o levantamento da TTR.

Entre as maiores transações do ano passado está a compra da Aceco, empresa de construção de data centers, pela Kohlberg Kravis Roberts, um dos maiores fundos de private equity do mundo. O negócio, estimado em 1,5 bilhão de reais, marcou a estreia do KKR no Brasil. Na época, a gestora de ativos anunciou que buscava uma participação relevante no País e avaliava investimentos em educação, logística, energia e petróleo. O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles é consultor sênior da KKR. Outra transação importante, anunciada no fim do ano passado, foi a compra do controle da Allied, empresa de distribuição de produtos de tecnologia avaliada em 1 bilhão de reais, pela gestora americana Advent International.

"A carteira de investimentos é montada em razão da situação econômica do País Antes, a produtividade era subjacente ao crescimento, mas agora ela é fundamental para as empresas brasileiras se tornarem competitivas", diz Furtado. Nesse contexto também ganha força o investimento em infraestrutura, estimulado, principalmente, pelo movimento do governo federal desde 2012 de viabilizar concessões em rodovias, aeroportos, portos e ferrovias. Diversas gestoras de ativos organizaram fundos voltados especialmente para esse setor, como a Rio Bravo, a Mantiq Investimentos, controlada pelo Santander Brasil, e a Pátria Investimentos.

Outro segmento que chama atenção de investidores é o de fármacos, graças ao potencial de crescimento do mercado consumidor e à baixa produção de insumos no Brasil. E um setor que cresce independentemente de crises. Um negócio relevante foi fechado no fim de 2013, quando o Laboratório Biomm recebeu um aporte de 133 milhões de reais para construir uma fábrica de insulina, dos quais 77 milhões foram do IRB, um fundo controlado pela gestora TMG. Hoje, a insulina é 100% importada desde 2001, quando a antiga Biobrás (cuja cisão deu origem à Biomm) foi vendida para uma multinacional eu-ropeia. O investimento total na planta industrial é de 400 milhões de reais, com participação, além do fundo, do BNDES, do BDMG e de fundadores da Biomm. A expectativa do governo federal é de que até 2017 o medicamento nacional seja disponibilizado em farmácias populares.

Para Rodrigo Bertozzi, sócio e CEO da B2L Investimentos, o segredo está em olhar as empresas médias e em microrregiões com desenvolvimento acima da média, como Campina Grande, na Paraíba, com um polo de tecnologia em formação, Joinville, que receberá em breve uma fábrica da BMW, o Complexo de Suape, em Pernambuco, e Teresina, com instalações da indústria eólica.

Outra conhecida região de interesse é a chamada "Mapitoba", na fronteira dos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, que se transformou nos últimos dez anos em uma das principais áreas de produção de grãos do País. As oportunidades de investimento, segundo Bertozzi, estão no cultivo, na estocagem e em infraestrutura de transporte até o Porto de Itaqui. Um exemplo de grande investidor presente na região é a SLC Agrícola, que tem como sócio o fundo britânico Valiance Asset Management Limited para o investimento em terras produtivas. A parceria, fechada em 2012, previa um aporte do fundo de 238 milhões de dólares a ser realizado em quatro vezes, com o último realizado em 2014.

Diante de tantos nichos que têm garantido rentabilidade aos investidores, a conclusão de Bertozzi soa como um aprendizado aos mais pessimistas: "Quem olha para a Bolsa de Valores não olha para o País".



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