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May 2022
Cenário setorial/mercado de capitais: Em ano turbulento, atenções se voltam ao universo tech
São Paulo, 06/05/2022 - As ações das techs estão despencando e as aberturas de capital das empresas do setor pararam. E ainda não há sinal de quando as ofertas de ações vão voltar, sobretudo em meio ao ambiente de alta de juros em ritmo mais forte nos Estados Unidos e no resto do mundo, que está assustando investidores. O que ainda não dá mostras de perda de fôlego no setor de tecnologia são as fusões e aquisições. Só nos primeiros quatro meses do ano, foram realizadas 244 transações no segmento, segundo números da Transactional Track Record (TTR).
Com as empresas capitalizadas após recentes captações, a expectativa é que os negócios sigam fortes no Brasil, ao contrário de outros segmentos, como saúde, que já passou por forte consolidação recente e já não há mais tanto espaço para negócios.
Nas fusões e aquisições das techs, o volume movimentado chegou a R$ 8,1 bilhões no primeiro quadrimestre de 2022, isso considerando só as operações que tiveram valores divulgados, que no caso foi de 51% das anunciadas. Em número de transações, o crescimento foi de 4% em relação ao mesmo período do ano passado e o maior número em quatro anos, segundo a TTR. Das 244 transações deste ano até o final de abril, 42 delas foram de empresas ou fundos dos Estados Unidos comprando brasileiras. Na lista de estrangeiros aportando recursos aqui, Argentina e Reino Unido aparecem logo após os americanos, com oito operações cada.
Mesmo após os recordes de aportes de fundos em 2021, este ano pode ter novo pico de investimento nas empresas nascentes de tecnologia. Segundo projeções do Distrito, plataforma de inovação aberta para empresas, as startups devem captar entre US$ 10,7 bilhões e US$ 12,9 bilhões ao longo deste ano de fundos de venture capital. Com esse dinheiro, podem financiar fusões e aquisições, ampliação de negócios e contratações. No passado, foram US$ 9,6 bilhões.
Apenas nos primeiros dias de maio, um veterano advogado que atua com M&A conta que está trabalhando em 18 novas operações de techs - fusões, aportes de fundos de venture capital e empresas preparando novas rodadas de captações. Para ele, apesar dos juros em alta no Brasil e no mundo, ainda há muito capital disponível, sobretudo para empresas nascentes. Por isso, os negócios podem até reduzir um pouco o fôlego com o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) subindo juros, mas devem prosseguir fortes, diferente de outros segmentos como saúde, onde a consolidação já avançou muito após uma rodada de aquisições de hospitais por grandes grupos.
Este advogado conta que recebeu proposta de venda de três hospitais, mas não encontrou comprador. Nas techs, ao contrário, os interessados rapidamente aparecerem, com a ressalva de que os valores de cada operação são menores quando comparado a outros segmentos, pois são empresas ainda pequenas.
Outra tendência apontada pelo executivo acima é que grandes grupos, principalmente de varejo, como Via ou Magazine Luiza, querem ter suas próprias empresas de tecnologia. Por isso, devem continuar buscando ativos no mercado. Há ainda nomes como Banco do Brasil, Itaú BBA, Americanas, Lojas Renner e ArcelorMittal, que estruturaram fundos de venture capital para investir em startups.
Anos eleitorais tradicionalmente têm um volume menor de fusões, segundo o diretor responsável por M&A no Bank of America, Diogo Aragão. E normalmente as operações que acontecem tendem a ser menores, sobretudo se a eleição ficar muito polarizada. Nesse ambiente, o estrangeiro espera um momento melhor, de maior clareza sobre o cenário e com o câmbio menos volátil. Mesmo o investidor já estabelecido aqui fica mais cauteloso em faze uma transação grande, afirma ao Broadcast.
Com o mercado de IPO parado, conta Aragão, a conversa com clientes fica basicamente focada em M&A. Só este ano, 23 empresas desistiram de fazer IPO na B3, das quais uma parte é do segmento de tecnologia. Entre elas, a ISH, Claranet Brasil, também de cibersegurança, e a operadora de telefonia Datora Participações e Serviços.
Nos Estados Unidos, as empresas que preparavam operações, incluindo as brasileiras que queriam listar papeis em Nova York, também que tiveram que engavetar planos. Entre elas, a Ebanx, de meios de pagamentos, e a Hotmart, plataforma de educação online, aguardam a reabertura da janela para retomar a operação. Segundo fontes, a fintech Creditas, que pode ser avaliada em US$ 10 bilhões em Wall Street, também está com seu IPO parado. Há chance, a depender do comportamento do mercado, de ocorrer no segundo semestre, provavelmente mais para o fim do ano.
Source: Broadcast - Brazil