TTR In The Press
Público
January 2016, LUÍS VILLALOBOS
Espanhóis têm sido os mais activos nas compras de empresas em Portugal
Entre 2011 e 2015, Espanha protagonizou o número mais elevado de aquisições da maioria do capital de empresas presentes em Portugal. Maiores negócios vieram da França/Luxemburgo, China e Brasil.
Santander fez a última grande investida no mercado português, ao garantir a compra do Banif por 150 milhões de euros JOSÉ SARMENTO DE MATOS
A aquisição do Banif por parte do Santander Totta, por 150 milhões de euros, foi apenas mais um sinal da vitalidade do reforço da presença de empresas espanholas em Portugal. Desde 2011 (ano em que a troika de credores entrou em Portugal), as empresas espanholas asseguraram o controlo de 34 empresas no território nacional, segundo dados facultados ao PÚBLICO pela Transactional Track Record (TTR).
De acordo com esta empresa especializada na análise deste tipo de transacções, 2015 foi o ano com mais negócios espanhóis em Portugal, com dez aquisições realizadas entre Janeiro e Novembro. A este número é preciso somar, pelo menos, a compra do Banif pelo Santander, que não está ainda incluído nos cálculos feitos pela empresa (ver infografia). Entre seis concorrentes ao Banif, o Santander Totta acabou por ser o único a entregar uma proposta firme, mas na corrida estava também o Popular.
Esta foi a segunda investida espanhola no sector no espaço de poucos meses, já que em Setembro o Bankinter ficou com o negócio de retalho do Barclaysno mercado nacional por cerca de 100 milhões de euros (montante que representa um forte desconto por parte do grupo inglês).
Outros sectores que se mostraram apetecíveis para o capital espanhol no ano que agora terminou foram o dos veículos automóveis, o da agro-indústria e o do imobiliário.
De acordo com Marta Borges, a proximidade de Portugal (Espanha também tem um grande interesse por empresas francesas, recorda a analista) e semelhança de mercados ajuda a explicar a tendência de aquisições, bem como a descida de valor das empresas portuguesas, enfraquecidas pela crise.
No sector financeiro, 2015 assistiu também ao reforço dos franceses da Cofidis, que ficaram com o Banif Mais (crédito pessoal) por 400 milhões de euros.
O maior negócio acabou por ser protagonizado por uma empresa francesa, mas que fez a operação através do Luxemburgo (à semelhança de várias outras empresas, devido a vantagens fiscais). Em troca de 5,8 mil milhões de euros, a Altice ficou dona da PT Portugal, alienada pela brasileira Oi. Aquele que foi o maior negócio dos últimos cinco anos está, por sua vez, ligado ao desmembramento de um dos maiores grupos nacionais, após a fusão com a Oi.
Desde 2011, o panorama económico e empresarial português alterou-se de forma acelerada, algo bem visível no principal índice bolsista, o PSI 20. Actualmente, este está reduzido a 17 entidades, depois de, por diversas razões, ter perdido empresas como a Portugal Telecom (a Pharol é apenas dona de uma participação na brasileira Oi), BES (que colapsou, a par do grupo GES) ou a Cimpor (vendida ao brasileiros da Camargo Corrêa).
Ao mesmo tempo, o Governo de coligação PSD-CDS liderado por Pedro Passos Coelho teve uma postura agressiva de privatizações, marcando não só a saída do Estado de várias empresas, como a entrada de novos intervenientes no mercado nacional. E, com isso, o executivo do PSD-CDS liderou grande parte das maiores operações destes últimos anos. Depois da venda da PT Portugal à Altice, e da fusão da Oi com o grupo Portugal Telecom (anunciada em 2013 e finalizada em 2015 por um valor de cerca de 3,58 mil milhões), o terceiro maior negócio no período em análise foi a privatização da Ana - Aeroporto de Portugal, ganha pela francesa Vinci em 2012 por 3,08 mil milhões de euros.
Depois, entram em campo os valores da ofensiva chinesa, que marcam uma nova etapa no relacionamento com Portugal: em 2011, o Estado vendeu os 21,35% que detinha na EDP à China Three Gorges, por cerca de 2,69 mil milhões, seguindo-se depois a REN, onde a chinesa State Grid é hoje o maior accionista, com 25% (pelos quais pagou 387 milhões).
Um outro grande negócio, e que acabou por resultar também no fatiamento da empresa, À semelhança da PT, foi a Oferta Pública de Aquisição (OPA) feita com sucesso pela brasileira Camargo Corrêa (via Áustria) à Cimpor em 2012, por cerca de 2,5 mil milhões. Depois, viria a dividir activos com a Votorantim, sua concorrente. O Estado teve um papel fulcral neste processo, com a CGD a aceitar alienar a sua posição, após indicação do ex-ministro Vítor Gaspar.
Nem todas as operações identificadas pela TTR têm valores correspondentes, já que houve negócios em que esse dado ficou por conhecer por questões de confidencialidade contratual. Somando os montantes que foram conhecidos publicamente ou identificados, chega-se à conclusão que, entre 2011 e Novembro de 2015, o bolo total chegou, no mínimo, aos 25 mil milhões de euros (equivalente a cerca de 14% do PIB). A análise da TTR não tem em conta as compras de empresas feitas por um grupo estrangeiro com filial em Portugal (negócio considerado como doméstico), nem operações de compra de activos, como imóveis e terrenos.
A má conjuntura económica serviu também como oportunidade para a expansão dos fundos de investimento e das empresas de capital de risco. Foi o caso do norte-americano Lone Star Real Estate Fund III, que assegurou a Lusotur, no Algarve, por 200 milhões de euros. Ou, para dar outro exemplo, a aquisição da Espírito Santo Viagens, dona da TopAtlântico, pela suíça Springwater Capital. Após esta entrada em Portugal, facilitada pelo colapso do Grupo Espírito Santo, deu depois mais um passo em frente ao comprar a Geostar.
É certo que nem todas as aquisições significam desinvestimento de capital português, já que várias empresas alienadas eram já detidas por grupos estrangeiros, mas houve muitos casos em que isso aconteceu. O reforço de Isabel dos Santos, empresária filha do presidente de Angola, ao adquirir a maioria do capital da Efacec Power Solutions no ano passado (via Malta), foi acompanhado de uma diminuição da presença do grupo José de Mello e da têxtil Manuel Gonçalves.
Antes, em 2014, a Fosun, hoje o maior investidor chinês em Portugal, assegurara a esmagadora maioria do capital da Fidelidade, embora a CGD ainda seja accionista. E, em Outubro de 2015, a compra da empresa portuária Tertir à Mota-Engil e ao Novo Banco, permitiu ao grupo Yildirim realizar o maior negócio de sempre de uma empresa turca em Portugal, ficando com 100% do capital (numa operação que contou com o apoio do banco russo VTB, o segundo maior accionista do Banco Finantia).