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August 2022

Especial: Acelerador de negócios nos EUA, compra de startups por brasileiras ensaia retomada

Nova York, 01/08/2022 - Em meio à crise que varreu meio trilhão de dólares do maior celeiro de inovação do mundo, os Estados Unidos, os negócios entre startups norte-americanas e grandes empresas brasileiras tentam algum fôlego. A expectativa é de uma volta gradual, com alguns sinais de melhora nas últimas semanas, embora a fase de anúncios em série e investimentos vultosos tenham ficado no passado.

O dinheiro global para startups nos EUA diminuiu em 25% entre abril e julho deste ano frente o mesmo período de 2021, segundo a consultoria norte-americana CB Insights. Ainda assim, o país recebeu o equivalente à metade de todo o financiamento, ou US$ 52,9 bilhões, no trimestre mais fraco para o setor desde 2020. A queda foi mais acentuada que a média mundial e ainda acima da Europa, onde a redução foi de 13%.

Apesar disso, os EUA continuaram sendo palco para o maior número de transações, 2,698 mil, seguidos pela Ásia, com 2,630 mil. Negócios envolvendo especificamente investidores brasileiros começam a dar algum sinal de vida, de acordo com especialistas ouvidos pelo Broadcast.

Nas últimas semanas, o Itaú Unibanco, maior banco da América Latina, investiu na norte-americana Avenue, com foco nos investidores brasileiros, enquanto a gigante de aço Gerdau ampliou o investimento em uma startup nos EUA. Mais recentemente, a Vibra Energia, maior distribuidora de combustíveis do País, anunciou a criação de fundo de venture capital com aporte inicial de R$ 90 milhões que olha, dentre outras praças, para empresas do Vale do Silício, nos Estados Unidos.

"A retomada de atividades, ao menos nos Estado Unidos, segue em ritmo gradual, mas não há consenso sobre um novo período de investimentos intensos no mercado de tecnologia", avalia o sócio do escritório de advocacia norte-americano Hughes Hubbard & Reed LLP, Carlos Lobo.

Joga contra o setor de inovação uma combinação de fatores adversos. Com a subida de juros nos países desenvolvidos e, em especial, nos EUA, o dinheiro para as startups ficou escasso, com empresas de tecnologia amargando uma perda de meio trilhão de dólares em valor de mercado, mostrou recentemente o jornal britânico Financial Times.

Um ponto a favor em meio à turbulência é a maturidade da economia norte-americana, diz o diretor de finanças corporativas da consultoria Kroll no Brasil, Alexandre Pierantoni. "Aqui, o ponto é diversificação. O nível de maturidade da economia norte-americana é maior e, consequentemente, das startups também", afirma ele, que conheceu de perto o sistema durante os quase dois anos em que viveu em Nova York, fazendo justamente a ponte entre brasileiros e os EUA.

No primeiro semestre, empresas do Brasil escolheram os Estados Unidos como seu principal destino de investimentos. Foram 20 transações e um total de R$ 3,5 bilhões, seguido por México e Colômbia, com nove operações cada, de acordo com a consultoria Transactional Track Record.

O ambiente de novos negócios entre empresas brasileiras e startups dos EUA contrasta com o visto no início do ano. Na ocasião, vários contratos foram anunciados. Em geral, o interesse nas novatas norte-americanas tem sido uma moeda de troca para colocar os pés - ou reforçar - na maior economia do mundo.


Inter se lista na Nasdaq após adquirir startup nos EUA. Foto: Aline Bronzati/Estadão Conteúdo

É o caso do banco Inter, que comprou a fintech norte-americana Usend, investimento pontapé para o mineiro desembarcar nos EUA. Além dele, a Eve, startup de carros voadores da Embraer, uniu seus negócios com a norte-americana Zanite, uma companhia de propósito específico de aquisição (Spac, na sigla em inglês), voltada ao setor de aviação. Na sequência das aquisições, algumas empresas brasileiras partem para uma listagem nos EUA, seja na Nasdaq, berço de tecnologia, ou na Bolsa de Nova York (Nyse), o que sustenta uma disputa entre as rivais pelos emissores do Brasil. Neste ano, o mineiro Inter e também a Eve trilharam tal caminho.

E as investidas têm vindo dos mais diversos setores. A CVC adquiriu a norte-americana WeTrek, dona de um aplicativo com dicas de viagens para turistas independentes. Já a Marfrig comprou a Takeoff Technologies, também dos EUA, com foco em soluções para estoques de alimentos.

Corporate venture capital

Uma estratégia que grandes empresas brasileiras têm usado para investir em startups nos Estados Unidos é por meio da estruturação de seus próprios fundos, os chamados corporate venture capital, no jargão do mercado. A pandemia, conforme Lobo, do Hughes Hubbard & Reed LLP, acelerou esse movimento. "A pandemia fez com que as fronteiras se tornassem mais sutis. No cenário atual, o mercado de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) sofre também, mas há capital brasileiro interessado nos EUA, que vem em busca de novas tecnologias", diz.

Dentre os grandes nomes brasileiros que já possuem um fundo próprio para investir em startups nos EUA está a Gerdau. No início de julho, a companhia ampliou sua participação na startup californiana Plant Prefab, que desenvolve soluções de construção com materiais sustentáveis, com a compra de uma fatia de 15% por US$ 19,355 milhões. Desde que criou uma estratégia de corporate venture, a Gerdau já investiu em três novatas dos EUA, de um total de oito aportes.

De acordo com o gerente de corporate venture capital e responsável pela Gerdau Next Ventures, Mateus Jarros, ao ter um fundo próprio, a companhia tem uma "flexibilidade grande" para investir em startups. A Gerdau tem adquirido posições minoritárias e procura negócios caso a caso, diz, sem abrir potenciais novos investimentos. "Uma das nossas grandes operações é nos EUA, temos interesse direto lá", afirma Jarros. "É o mercado de inovação e de venture capital mais maduro do mundo. Tem certas tecnologias com mais maturidade lá e nós queremos acompanhar isso", conclui.


Source: Broadcast - Brazil 


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