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Época Negócios

September 2019

Fusões e aquisições podem crescer em 2020 mesmo com recuperação lenta

Atividade pode ganhar escala com continuidade da agenda de reformas e apetite de investidores por correr mais riscos em troca de rendimentos mais robustos

A combinação de fatores como uma agenda governamental pró-mercado, medidas de estímulo ao consumo e investidores com dinheiro no bolso —com disposição para correr riscos em troca de rendimentos mais robustos — pode ajudar o mercado de fusões e aquisições brasileiro ganhar mais fôlego a partir de 2020.

Por se tratar de um segmento que tem por princípio a característica de olhar o longo prazo, turbulências de momento não geram interrupções bruscas nas negociações. Por isso, o volume de fusões e aquisições de empresas brasileiras tem mantido certa constância ao longo dos últimos anos, mesmo considerando o tombo que a economia sofreu no biênio 2014-2015 e sua lenta recuperação.

Alexandre Pierantoni, diretor executivo da consultoria global Duff & Phelps, lembra que o volume de operações de M&A (sigla em inglês para "fusões e aquisições") no Brasil tem girado em torno de 750 a 800 negócios por ano, ao longo dos últimos sete exercícios. Esse ritmo acabou por consolidar a posição do país como o principal mercado de fusões e aquisições na América Latina.

Apesar das turbulências políticas e econômicas do período, os negócios andaram porque, na avaliação de Pierantoni, para quem entra numa fusão ou está disposto a adquirir uma empresa, esperar a solução definitiva de uma crise de curto prazo pode significar “comprar mais caro” lá na frente.

Em outras palavras, reduzir seu potencial de lucro. Quem tem capital para entrar nesse tipo de jogo — com negócios que vão das dezenas de milhões de dólares chegando até à casa do bilhão — não quer saber de lucro reduzido.

De acordo com o mais recente relatório sobre o desempenho do segmento de fusões e aquisições no país, elaborado pela plataforma Transactional Track Record (TTR) em parceria com o escritório TozziniFreire Advogados e a LexisNexis (empresa especializada em processamento e análise de big data), o volume de negócios já anunciados ou concluídos de janeiro a agosto no país atingiu a marca de 795, um aumento de 2,32% em relação ao registrado pela plataforma no mesmo período do ano passado.

Em termos de recursos, essas operações somam R$ 145,6 bilhões, um aumento de 21,52%  ante o valor movimentado nas transações feitas e/ou anunciadas entre janeiro e agosto do ano passado.

Para o especialista da Duff & Phelps, o mercado de fusões e aquisições brasileiro pode ultrapassar a marca de 1.000 operações anuais a partir de 2020. Para isso, é preciso dar continuidade à agenda desenhada pela equipe econômica do governo Jair Bolsonaro.

Não apenas no que se refere às reformas estruturais — como a da Previdência e a tributária —, mas também à plena execução do programa de privatizações que está sob o comando do secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Salim Mattar.

“O volume de negócios pode mudar de patamar porque os fatores nunca foram tão positivos em termos de agenda. Mas não são fatores de curto prazo. Não vamos ter uma explosão de M&A em cinco, seis meses. Vamos ter uma continuidade crescente e podemos mudar de patamar em 2020 porque, olhando o longo prazo, temos estímulo de consumo, perspectivas positivas e excesso de liquidez para capital de risco no Brasil, o que estimula o M&A”, argumenta Pierantoni.

O especialista acredita, até, que as fusões e aquisições podem contribuir para o aumento do emprego no país, ao contrário do senso comum. Cortes de pessoal podem acontecer num primeiro momento de uma fusão, reconhece Pierantoni, mas, com a perspectiva de crescimento do negócio — objetivo natural de toda transação —, novos postos de trabalho podem surgir. Mas essa controvérsia é assunto para outra conversa.

RENATO ANDRADE é coordenador do jornal O Globo e da revista ÉPOCA em São Paulo. Foi secretário de Redação da Folha de S.Paulo em Brasília, coordenador de Economia de O Estado de S. Paulo e editor da Reuters, no Brasil e no Canadá. Foi repórter da Agência Estado e da Bloomberg, além de assessor especial dos ministros da Fazenda Henrique Meirelles e Eduardo Guardia. É um dos autores do livro A crise fiscal e monetária brasileira , organizado pelo economista Edmar Bacha.


Source: Época Negócios - Brazil 


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