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September 2017, Vivian Oswald

Investimento chinês: benefícios e riscos

Pequim - Apesar da crise no Brasil, ou por causa dela — que deixou os ativos baratos —, os chineses estão mais dispostos que nunca a ampliar seus negócios no país. Em sua viagem à China, no início deste mês, o presidente Michel Temer recebeu a promessa de investimentos que, se confirmados, significarão o aporte, em dois anos, de mais de R$ 31 bilhões na economia brasileira, que já recebeu cerca de R$ 61,5 bilhões de 2014 até julho deste ano, entre fusões e aquisições. Este ano, pela primeira vez, um em cada quatro produtos exportados pelo Brasil irá para a China. A proporção é até um pouco maior neste momento, dados os carregamentos gigantescos de soja, mas estes não se manterão nos mesmos níveis até dezembro. Os montantes confirmam a confiança dos chineses na economia brasileira e sua demanda por insumos e energia. Mas trazem, para o Brasil, os riscos de uma dependência cada vez maior daquele que desde 2009 é seu principal parceiro comercial.

Além disso, uma participação mais expressiva em setores considerados estratégicos pode aumentar a influência chinesa não só sobre a economia brasileira, mas sobre decisões políticas de desenvolvimento ou de novas privatizações. Acredita-se que investidores de peso em setores importantes possam, por exemplo, impor condições para novos investimentos e até interferir em marcos regulatórios.
— É preciso ter um quadro legal bem preparado para evitar interferências, que acontecem em vários países do mundo, como Paquistão, Sri Lanka e alguns africanos — diz Christopher Balding, professor de economia da Escola de Negócios de Shenzhen, da Universidade de Pequim.
O ministro dos Transportes, Maurício Quintella, disse não ver nada demais no apetite chinês. Ele afirmou que o Brasil tem leis rígidas e que não há motivo para preocupação com os investimentos chineses.
— Nós precisamos de infraestrutura e eles querem investir. Isso é ótimo — avalia Quintella, um dos ministros que Temer levou à China para explicar as oportunidades de novos negócios no Brasil.
Segundo dados da consultoria Transactional Track Record (TTR), os americanos realizaram mais operações de fusões e aquisições desde 2014 — 320, contra 34 dos chineses —, mas os recursos gastos pela China no período foram bem maiores: R$ 61,5 bilhões, contra R$ 49,12 bilhões dos EUA. Em 2014, a China estava em 12º lugar na listada consolidada pela TTR para esse tipo de transação, mas vem subindo gradativamente, e este ano já está na quarta posição. Os americanos se mantêm no topo do ranking.

ÁFRICA DO SUL PERDE FORÇA

Os analistas consideram boa a chegada firme dos chineses, para contrabalançar os investimentos de outros países. Mas ressaltam que não adianta criar uma relação de dependência com essa ou aquela nação.
— Um percentual (sobre as exportações) muito alto pode levar a uma grande dependência econômica e, progressivamente, política. É importante para todos os países manterem a cesta de exportações equilibrada, especialmente no que diz respeito a produtos como commodities, particularmente quando se está lidando com grandes potências como a China — diz André Loesekrug-Pietri, fundador do ACapital, fundo de investimento europeu que atua com chineses.
Ele lembrou que compras de commodities ainda podem oscilar ao sabor da política:
— É importante para o Brasil aumentar o valor agregado das suas exportações, o que deixaria o país menos dependente da flutuação cambial.
Segundo economistas, não se pode agir com preconceito com relação aos investimentos chineses, mais do que bemvindos para a economia brasileira, que enfrenta uma grave recessão. Mas eles afirmam que a discussão sobre os riscos para o futuro são fundamentais. Durante a reunião do Brics, negociadores notaram que a África do Sul perdera sua voz. Não conseguia mais enfrentar a China, devido a sua dependência de investimentos chineses. No passado, a opção por investimentos americanos, das montadoras, deixou o Brasil dependente das rodovias.
— É preciso pensar nas prioridades brasileiras. Os chineses estão atrás de insumos básicos e energia. Os investimentos podem ser direcionados de maneira que as exportações brasileiras passem a atender às necessidades deles e não do Brasil, que certamente vai querer vender produtos com maior valor agregado — afirma Balding.
Na avaliação do embaixador do Brasil na China, Marcos Caramuru, o país terá de saber gerenciar os riscos para crescer:
— São riscos que, caso se materializem, teremos de administrar com naturalidade, se quisermos continuar a atrair capitais chineses ou outros para investir em infraestrutura no país. O importante é dispormos, ao longo do tempo, de boa regulação e de bom acompanhamento diplomático das questões que possam porventura surgir.

RECURSOS DA POUPANÇA

Os chineses têm visão de longo prazo e gostam de ter participações majoritárias em investimentos. Sabem que os ativos estão baratos e informaram Temer sobre o interesse em privatizações e infraestrutura. Metade dos ativos que a gigante de energia State Grid tem no exterior está no Brasil. Investir no Brasil tem sido uma das saídas encontradas pelos chineses para internacionalizar a sua economia, variar o seu portfólio e gastar os recursos de sua imensa poupança interna.


Source: Extra - Brazil 


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