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Diário de Notícias

December 2024, João Rodrigues Pena

Quando vai Portugal ter um mercado sério de M&A?

A consultora Bain & Co. divulgou esta semana que o número de fusões e aquisições (M&A) em Portugal baixou 28% até novembro para 90 operações, totalizando cerca de 1,91 bi€, menos 46% do que no mesmo período de 2023. Esta informação teve um eco discreto na comunicação social ... mas vale a pena “Ver de perto” esta matéria.

O aumento de escala do tecido empresarial nacional é considerado por todos os empresários, associações ou governantes um objetivo vital para acelerar o crescimento e a competitividade da economia nacional. E é consensual que a intensidade de operações de M&A é um motor chave para o atingir.

Nesta ótica, os resultados apresentados são mais do que dececionantes, são um desastre. Com efeito, a experiência global demonstra que o aumento de escala deriva em larga medida de operações de M&A – quer se trate duma fusão, da maior capacidade e vontade de um comprador em investir em crescimento ou da exploração de sinergias com outras unidades similares detidas pelo comprador. Se não há operações de M&A ficamos reduzidos ao lento crescimento orgânico que é por definição, salvo raras exceções, manifestamente insuficiente. 

Porque é que há tão poucas operações de M&A e ainda por cima a diminuir? 300 executivos auscultados pela Bain&Co consideram que, nas operações em Portugal, o principal obstáculo “continua a ser a diferença nas expectativas de avaliação entre compradores e vendedores” acrescendo que os “compradores estratégicos exigem hoje programas de criação de valor mais concretos do que o mero crescimento de receitas a longo prazo”. As ações de M&A de empresas nacionais fora, por outro lado, têm pouca expressão porque as empresas ou têm baixa literacia de risco, reduzida noção do justo valor ou estão sub capitalizadas.

E qual a realidade relativa destes números? É importante colocar este desempenho numa ótica comparativa e o nosso País vizinho é o referencial natural, por todas as razões. 

Espanha registou 2.939 negócios com um valor agregado de € 89,7bi€ a novembro (TTR Data), um crescimento de 2% no número de transações e de aproximadamente 20% no capital mobilizado em comparação com o mesmo período de 2023. Entrando com o efeito do nível de GDP relativo dos dois países, 1,700 vs. 241 bio€, as operações de M&A em Espanha resultaram num volume 6,7 vezes superior para um número de operações 4,6 vezes superior face às operações nacionais. Interessante ver as principais origens de transações em Espanha: 27% aquisições entre empresas, 18% capital de risco e apenas 13% private equity. O motor está dentro de casa. 

Estamos a ficar cada vez mais longe de atingir o objetivo vital pelo qual todos lutamos. O que fazer? Incentivar e sensibilizar os empresários, estudar e divulgar melhores práticas como o caso de Espanha ... e ter o Estado a dar o exemplo alienando os muitos ativos que não fazem sentido na esfera pública.


Source: Diário de Notícias - Portugal 


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