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Época Negócios

December 2015, José Setti Diaz

BTG Pactual enfrenta seu maior desafio

O banco de André Esteves tem problemas em importantes empresas de seu portfólio, como Sete Brasil, Leader, Brasil Pharma, Petro África... De que forma isso pode afetar os resultados e o que fazer para não cometer os mesmos erros 


 

Esteves: ele tenta agora criar um modelo BTG de gestão de empresas   (Foto: Alessandro Shinoda/Folhapress)

ESTEVES: ELE TENTA AGORA CRIAR UM MODELO BTG DE GESTÃO DE EMPRESAS (FOTO: ALESSANDRO SHINODA/FOLHAPRESS)

Nenhum banco se tornou sócio de tantas empresas no Brasil em tão pouco tempo quanto o BTG Pactual, de André Esteves. Dados da consultoria espanhola TTR, que monitora compras e vendas pelo mundo, mostram que nos últimos cinco anos o BTG fechou 60 negócios, investindo mais de R$ 23 bilhões. No mesmo intervalo, vendeu dez participações, faturando pelo menos R$ 3 bilhões.

Em entrevistas, palestras e teleconferências, Esteves costuma repetir que o BTG é "um banco de investimentos que investe". Também já afirmou que o grupo é "um BNDES privado e eficiente". Essa eficiência, no entanto, vem sendo colocada à prova nos últimos meses. Desde o começo do ano, o BTG vive sob intenso escrutínio de investidores e concorrentes, ressabiados com as dificuldades enfrentadas por operações importantes nas quais o banco tem participação, como Sete Brasil (plataformas de petróleo), Brasil Pharma (rede de farmácias), Leader (varejo) e Eneva (energia), entre outras. Os problemas registrados simultaneamente nestas empresas geraram questionamentos no mercado sobre a exposição do BTG (sobretudo aos ativos da Petrobras ou relacionados a ela) e a forma como a instituição gere alguns de seus negócios - uma combinação que pode trazer um impacto negativo nos resultados de médio e longo prazos do banco.

"Muitas empresas nas quais temos participação, como Rede D'Or, Mitsubishi, UOL e GlobeNet estão indo superbem. E nos fundos de infraestrutura temos ativos que vão dar muito retorno", diz Carlos Fonseca, responsável pelos investimentos em private equity do banco. "Somando tudo, o resultado será muito maior do que os problemas que enfrentamos. É preciso olhar para o banco como um todo e não apenas esta ou aquela operação."

A fotografia atual do "todo" mostra, de fato, que o BTG está longe de ser um banco ameaçado. Nos últimos cinco anos, a receita cresceu quase três vezes, saindo de R$ 2,3 bilhões para R$ 6,7 bilhões, com lucro líquido de R$ 3,4 bilhões. Nos ativos, o salto foi ainda maior: de R$ 50,2 bilhões para R$ 218 bilhões em 2014. A tendência é que o balanço do primeiro trimestre de 2015, a ser divulgado no início deste mês, apresente um pequeno aumento do lucro líquido, de 2% a 3% em relação ao mesmo período do ano passado, puxado pelas operações de mercado e por alguns bons resultados na unidade de private equity, a de empresas.

Entre as que vêm dando certo, o melhor exemplo é o da Rede D'Or de hospitais. O banco aportou cerca de R$ 700 milhões na instituição em 2010, quando adquiriu um quarto da operação, que permanece sob o controle dos fundadores, a família Moll. De lá para cá, a D'Or embarcou num programa agressivo de expansão, comprando cerca de 20 hospitais até chegar às atuais 30 unidades, que incluem bandeiras como Villa-Lobos e São Luiz, na capital paulista, e Copa D'or, no Rio de Janeiro, além de plano de saúde corporativo e clínicas especializadas.

No ano passado, a rede faturou quase R$ 5 bilhões e lucrou mais de R$ 300 milhões. A expectativa é que até 2020 o número de leitos, hoje na faixa dos 4 mil, seja duplicado. Com valor de mercado estimado acima dos R$ 18 bilhões, uma eventual venda de sua participação poderia render ao banco algo entre R$ 4 bilhões e R$ 6 bilhões. No final de abril, o fundo americano Carlyle anunciou um aumento de capital na D'Or. Colocou R$ 1,8 bilhão na operação, para abocanhar 8%. Com esse movimento, a participação do BTG caiu de 27% para 24%. Acredita-se que, numa segunda rodada de negociações, o Carlyle bote a mão no bolso e leve mais uma parcela da participação do banco, talvez a metade. Uma façanha em tempos de crise econômica. Outras empresas nas quais o banco possui investimentos, como a rede de estacionamentos Estapar, a empresa de fibra óptica GlobeNet e a academia BodyTech também têm tido bom desempenho. "O cenário macroeconômico trouxe algum alívio, acalmou o mercado. E eles realmente têm alguns trunfos para apresentar no curto prazo, como essa transação na Rede D'Or", comenta o diretor de um banco de investimento.

O que preocupa o mercado, no entanto, não é o curto prazo, mas sim o futuro. O private equity é um negócio de longa digestão, diferente das operações de trading, mais imediatistas. Eventuais problemas com empresas demoram, portanto, para aparecer nos "números". Se é verdade que há companhias lucrativas e promissoras na carteira do BTG, também é verdade que o banco possui bilhões investidos em empresas com dificuldades (leia quadro abaixo). Ao longo dos últimos dois meses, NEGÓCIOS conversou com mais de 30 profissionais que conhecem profundamente o BTG, como analistas de mercado, empresários, gestores de investimentos, funcionários e ex-executivos das companhias nas quais o banco investe. O objetivo era entender as razões dos tropeços. A conclusão é que os problemas não decorrem de um único motivo. Eles vão da situação macroeconômica do país ao timing no fechamento de alguns negócios, passando por equívocos de gestão. O próprio Fonseca reconhece falhas na condução de algumas empresas, caso da rede de farmácias Brasil Pharma. "Ali, acertamos na tese de investimentos, mas cometemos erros de execução", diz (leia mais na entrevista).

Outro problema é o impacto que essas operações podem causar à reputação do BTG, o tal do "risco reputacional", termo que costuma causar calafrios nos bancos. Algumas empresas de seu portfólio estão sendo investigadas na Operação Lava Jato e na CPI da Petrobras. A Sete Brasil, gestora de sondas de exploração de petróleo da qual o BTG é o maior acionista, foi acusada por Pedro Barusco - ex-diretor da Petrobras e da própria Sete - de ter participado de um esquema de corrupção em contratos. Assim como os demais acionistas destas empresas, o BTG acabou vendo seu nome colado ao imbróglio. "As maiores vítimas da Sete Brasil fomos nós", diz Roberto Sallouti, sócio e diretor de operações do BTG. "Estamos com problemas de reputação por termos sido o babaca que estava na sala."

Em relatório, o analista Saul Martinez, do banco JP Morgan, diz que a posição de liderança do BTG em múltiplas áreas é positiva, mas são preocupantes "os riscos de mercado acima da média e a transparência limitada". O JP Morgan não é voz isolada. Em entrevista à Bloomberg, Monica de Bolle, ex-economista do Fundo Monetário Internacional e sócia da Galanto Consultoria, disse que a exposição do banco aos ativos da Petrobras ou a ela relacionados pode ser problemática. Um relatório publicado pelo Deutsche Bank também registrou que o BTG tem a maior exposição entre os bancos brasileiros a empresas do setor de petróleo e de construção envolvidas na Operação Lava jato. Apesar de não haver prognósticos sobre o tamanho dos possíveis prejuízos com estas operações, sabe-se que, se concretizadas, as perdas não serão desprezíveis. "André Esteves é um trader brilhante e sempre soube manejar, como poucos, as perdas de curto prazo típicas das operações de mercado", diz o diretor de um banco de investimento. "Seu desafio é se provar igualmente brilhante na arte de lidar com problemas no longo prazo." 

Como reflexo do momento, a fortuna de Esteves foi a que mais caiu neste ano entre banqueiros no índice da agência Bloomberg. Seu patrimônio encolheu quase 20% em 2015, sendo avaliado em US$ 2,7 bilhões.

epocanegocios.globo.com http://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2015/11/btg-pactual-enfrenta-seu-maior-desafio.html


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