TTR In The Press

IDG Now!

December 2016, Venâncio Velloso

Por que as startups brasileiras ainda não tem grandes saídas?

O sonho de consumo de qualquer empreendedor da indústria digital que começa um negócio na garagem é alcançar um exit (saída), seja através de uma fusão, uma venda estratégica ou, a cereja do bolo, um IPO na Bolsa que permita levar seu negócio a um novo patamar, ganhar escala, novos mercados e, claro, render bons dividendos para os fundadores e investidores que apoiaram a ideia desde a concepção. 

Mas este ainda parece ser um sonho distante para os empreendedores brasileiros. De acordo com a consultoria CB Insights, existem hoje no mundo 168 unicórnios, empresas de tecnologia com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão, mas nenhum deles ainda, vale observar, fundado no Brasil. 

Nossos casos mais emblemáticos de aquisições podem ser contados em apenas uma mão e o mais recente data de 2009, há 7 anos, quando o Buscapé foi vendido para Naspers por US$ 342 milhões. Em 2000, na bolha da Internet, parte da Globo.com foi adquirida pela Telecom Itália por US$ 865 milhões. No mesmo ano, o Zipmail foi vendido por US$ 365 milhões para Portugal Telecom, que um ano antes já tinha arrematado o Zaz por US$ 240 milhões. 

Merecem também menções a formação da B2W com a união da Americanas.com, Submarino e Shoptime e a compra da Sack’s pela Sephora. O UOL, vale lembrar, abriu seu capital em 2005, mas acabou abandonando a Bolsa seis anos depois ao não alcançar o retorno esperado na Bovespa.

E paramos por aí.

Por que não noticiamos até hoje um exit bilionário no País? O que falta para transformarmos a criatividade e o talento dos brasileiros em negócios globais que façam sorrir os capitalistas de risco? Quando assistiremos a abertura de capital de uma startup brasileira de tecnologia, algo que parece ainda uma realidade inalcançável? 

Acredito que para atingir um nível de maturidade que leve nossas startups a conquistar grandes exits, o Brasil terá que enfrentar três desafios principais: a) a educação; b) o desenvolvimento de políticas públicas que incentivem a criação de empresas inovadoras com DNA digital e, finalmente, c) o investimento de grandes grupos corporativos em startups que agreguem inovação e acelerem o desenvolvimento de negócios em setores onde o digital faz cada vez mais a diferença para consolidar a liderança de mercado.

Mercado tímido?

Fato é que o volume de M&As entre grandes corporações e empresas nascentes ainda é bastante tímido no Brasil quando comparado a outros países. Negócios superiores a US$ 100 milhões, considerados corriqueiros em mercados amadurecidos, ainda são raros para os padrões brasileiros. 

A diferença entre o mercado americano e brasileiro é abissal. No Brasil, a Merrill Datasite, plataforma de due diligence de fusões e aquisições, contabilizou em seu relatório TTR (Transactional Track Record) 239 transações envolvendo empresas de tecnologia e Internet no País no ano passado. Já nos Estados Unidos, para ter uma ideia, segundo a CB Insights, apenas no primeiro semestre deste ano foram realizados 857 fusões, aquisições e IPOs. Além de um número bem menos representativo, as negociações com empresas brasileiras ainda estão mais restritas a aportes de capital e não apresentam valores expressivos de investimento como no mercado americano.

Há ingredientes saborosos para um futuro mais promissor para nossos empreendedores – 100 milhões de brasileiros já acessam a Internet, outros 100 milhões ainda irão se conectar, a economia dá sinais de fortalecimento e há muitas demandas em busca de soluções em setores como agronegócio, educação, saúde e fintechs. 

Mas se quiser acelerar o desenvolvimento do ecossistema de startups e continuar atraindo investidores de risco, o Brasil deverá realizar mudanças culturais indispensáveis que começam nos bancos escolares, passam também pelo Governo e chegam no universo corporativo, um protagonista que exerce um papel indispensável para evolução e consolidação de novas empresas na economia de bits. 

É preciso diminuir este gap entre os grandes grupos corporativos e as startups para aumentarmos o número de saídas estratégicas e, assim, permitir que os empreendedores se tornem investidores ao reinvestir o capital ganho em novas startups, seguindo assim o conceito criado pelo professor John Sterman, do MIT, de “reinforcing loop”, que visa acelerar ou fomentar o crescimento exponencial de um sistema. 

Smart money

No caso do ecossistema de startups o fortalecimento viria através de novos exits, transformando os empreendedores em investidores anjos, multiplicando sua experiência adquirida através do investimento em novas startups, que, consequentemente, receberiam o famoso smart money, ajudando a acelerar a curva de aprendizado dos empreendedores de primeira viagem, aumentando ao mesmo tempo suas chances de sucesso para novos exits, e fechando assim o ciclo exponencial capaz de fomentar o crescimento do nosso universo brasileiro de startups (seguindo a lógica do infográfico abaixo).


Source: IDG Now! - Brazil 


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