TTR In The Press
Valor Econômico
June 2017, Juliana Machado
Incerteza ameaça retomada de fusões e aquisições
As expectativas de recuperação econômica que vinham se desenhando no Brasil no fim de 2016 foram insuficientes para impulsionar as operações de fusões e aquisições no começo deste ano. No primeiro trimestre, essas operações recuaram 4,3% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo levantamento da empresa de auditoria KPMG divulgado com exclusividade pelo Valor.
Represado desde a segunda metade do ano passado à espera de sinais mais firmes de retomada de indicadores macroeconômicos, o mercado de fusões e aquisições parece ter seu ritmo ainda mais ameaçado depois que a delação de Joesley e Wesley Batista, donos da J&F, reconduziu o país para dentro de um cenário de incertezas políticas. Agora, o mercado deve ficar em compasso de espera pelos desdobramentos das delações antes que o interesse por novas transações volte a ganhar força.
De janeiro a março, foram realizadas 201 transações, das quais a maior parte foi doméstica (86), seguida pelas operações classificadas de CB1, referentes a empresas de capital estrangeiro que adquiriram companhias brasileiras (68). Em relação ao primeiro trimestre de 2016, o número de aquisições domésticas ficou estável, mas as operações CB1, que costumam ser as mais relevantes, tiveram queda de 16%.
Na ponta positiva, cresceu em 80% o número de empresas estrangeiras que negociaram, também com estrangeiros, companhias no Brasil, o que ajudou a equilibrar a queda em outros segmentos, embora com uma quantidade bem mais reduzida.
Os números divulgados pela KPMG mostram que, embora o montante das operações possa ter crescido, em parte isso segue o fato de que as transações movimentaram mais dinheiro - e não que o número de entrantes nesse mercado tenha de fato crescido significativamente. Levantamento anterior realizado pela consultoria Transactional Track Record (TTR) mostrou que, até abril, o valor movimentado nas fusões e aquisições subiu 223%, a R$ 111,7 bilhões; em quantidade, porém, a TTR mensurou um crescimento menor, de 5%, para 342 transações.
Segundo Luis Motta, sócio da KPMG, a dinâmica das operações no trimestre acompanhou eventos como o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a instabilidade política da primeira metade de 2016, que levaram a um atraso nas transações, postergadas para o terceiro e quarto trimestres e esperadas também para o começo deste ano.
De acordo com ele, sem rupturas no cenário político e econômico, 2017 poderia mostrar uma melhora ante o baixo desempenho dos últimos dois anos. Com a delação dos donos da J&F, porém, o prolongamento da indefinição política tem força para comprometer ou atrasar as transações que já estão em negociação. "Ainda é cedo para dizer. O número este ano talvez não caia ante 2016, mas é possível que não vejamos uma retomada que já era esperada", afirma.
Na análise por setores, a pesquisa da KPMG mostra que, no primeiro trimestre, as companhias de internet lideraram fusões e aquisições, com 29 transações, mas outros segmentos menos evidentes no passado, como o educacional, despontam como novo horizonte nesse mercado - caso da operação entre as líderes Kroton e Estácio.
Com mudanças regulatórias em vista e vendas de ativos no radar, o setor de petróleo e gás também pode ter oportunidades na visão do sócio da KPMG, com a chegada de novos interessados estrangeiros. Empresas do setor de energia, por sua vez, também vêm mostrando importante movimento de consolidação, principalmente no segmento renovável e com a chegada de companhias chinesas - a exemplo da State Grid, que comprou a CPFL em julho do ano passado, e a China Three Gorges (CTG), que concluiu em dezembro a aquisição de ativos da Duke Energy no Brasil.
"Mas vale reforçar que a economia precisa se estabilizar, porque as fusões e aquisições são investimentos de longo prazo e dependem, portanto, de previsibilidade", ressalta Motta.
Source: Valor Econômico - Brazil