TTR In The Press
O Jornal Económico
September 2020
«Your Cash is King»
A crise decorrente da pandemia do Covid-19 po - derá não ser igual às últimas crises associadas a ciclos negativos de M&A. Embora se tenha assis - tido, em termos globais, a uma redução no volu - me de transações (segundo a TTR, em Portugal registou-se uma redução de 30% no volume de transações entre janeiro e julho de 2020 face ao período homólogo de 2019), não houve qualquer travagem a fundo, contrariamente ao que suce - deu no passado.
E desta pandemia surgiu tam - bém, de forma quase imediata, um M&A cada vez mais e quase totalmente digitalizado, de A a Z, que funciona (muito) bem.
Neste novo normal em que cada dia pode trazer algo inesperado é especialmente difícil fazer pro - jeções: há novas variáveis que, somadas às tra - dicionais, não permitem de todo antecipar com clareza os efeitos na economia, em termos de li - quidez, implicações na resiliência dos negócios e no acesso ao crédito. Em termos de contexto de M&A os próximos tempos fazem antecipar como o tema mais crí - tico a valorização dos ativos, considerando a in - certeza das projeções financeiras, especulandose já quanto à factorização do Covid-19 no EBITDA (“EDBITDA_C”) e à mitigação do valuation gap através de earn-outs.
Outros aspetos de tensão entre as partes pren - der-se-ão com preocupações adicionais, pelo la - do vendedor, de certeza quanto à conclusão do negócio e à disponibilidade de fundos, e, por parte dos compradores, maior exigência quanto ao pacote de garantias e indemnizações. Uma outra tendência que resulta do atual con - texto e que se poderá manter prende-se com pe - ríodos de tempo mais alargados até à conclusão de transações, sobretudo nos casos em que as mesmas se encontrem sujeitas à aprovação de reguladores.
É ainda de admitir que se assista ao reforço da tendência de desinvestimento de áreas não co - re, seja ou não num contexto distressed (para as - segurar o serviço da dívida ou para reforço de áreas core); a aparentemente inevitabilidade de adaptação de modelos de negócio por parte das empresas poderá em si mesma dar azo a novas transações que não seriam evidentes no mun - do pré-Covid, como a aquisição de alguma parte da cadeia de fornecimento, de concorrentes ou a formação de novas parcerias; e, naturalmente, a crescente aposta na digitalização poderá levar a um interesse acrescido em empresas que per - mitirão a vantagem de uma evolução acelerada nesse domínio. Nos setores mais impactados pela pandemia, co - mo o retalho não essencial, transportes, restau - ração e turismo, haverá mais interesse na pre - servação de liquidez do que em novos investi - mentos, podendo ser potenciais alvos para tran - sações de distressed M&A.
Será ainda de espe - rar maior atividade de M&A nos setores mais resilientes, como as tecnológicas, farma e saúde (em especial as relacionadas com o combate ao Covid-19). Outras áreas, como a das energias renováveis, deverão continuar em alta, considerando o atual contexto de transição energética e de descarbo - nização. Chegados a este ponto: é provável que, em re - sultado da pandemia, se quebre a tendência do seller’s market; e é sabido que aqueles que, no passado, avançaram com aquisições durante ci - clos negativos, temerariamente ou não, colhe - ram depois vantagens muito significativas face aos seus concorrentes.
Como afirmam muitos “comentadores” de M&A a propósito da atual crise, quer no que se refere à solidez dos ativos, quer ao apetite pelo investimento, até porque estão forçosamente ligados entre si, nesta fase cash is king, e essa liquidez será determinante de forma transversal, independentemente de qual - quer análise setorial.
Source: O Jornal Económico - Portugal