TTR In The Press

Capital Aberto

August 2024

Fundos de private equity têm R$ 23 bilhões na conta aguardando investimentos

Entre os segmentos que podem se beneficiar desse recurso este ano, destaque para o setor de M&A, segundo especialistas consultados

Com os desafios da economia global e local, o volume de capital (dry powder) disponível para os fundos investirem em private equity soma R$ 23,64 bilhões até julho deste ano, valor 6,75% menor que o visto em todo o ano de 2023, que foi de R$ 25,36 bilhões, de acordo com levantamento da Spectra, a pedido da Capital Aberto.

O dry powder, jargão do mercado para capital comprometido e não investido, cresceu no mundo todo em um período no qual os investidores querem mais segurança, em meio ao cenário econômico mundial desafiador, com inflação e juros altos impactando os negócios, o que fez com que muitos fundos colocassem os recursos em compasso de espera, “sobrando” dinheiro não investido.

Na avaliação de especialistas consultados, o setor que pode se beneficiar desse capital é o de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) que vem sofrendo muito nos últimos anos no Brasil. Uma pesquisa divulgada recentemente pela consultoria KPMG, inclusive, mostra que o M&A cresceu 16,7% no segundo trimestre deste ano, refletindo a retomada gradual das atividades e uma renovada confiança dos investidores no mercado brasileiro.

No período, foram realizadas 426 operações de M&A no país, o maior número em um trimestre em dois anos, segundo a KPMG. Embora o crescimento seja significativo, o cenário está longe das expectativas iniciais para o ano, afirma o sócio do Ambiel Advogados e especialista em direito societário, Gustavo Biglia.

“O mercado indicava uma alta demanda para operações ao longo de 2024. No entanto, as incertezas em torno da reforma Tributária e a instabilidade econômica resultante do aumento dos gastos públicos ainda não proporcionaram a confiança necessária para que o mercado se comprometa com investimentos significativos nos setores da economia brasileira”, avalia o especialista.

Para Biglia, não apenas o cenário local deteriorado afeta o setor de M&A, mas também os desafios globais econômicos, que podem fazer as empresas reavaliarem estratégias e optar por adiar ou cancelar transações planejadas.

Na visão do sócio da área de M&A do Machado Meyer Advogados, Guilherme Malouf, o momento é desafiador para a indústria como um todo, diante da instabilidade política e da valorização do câmbio, o que leva os investidores a preferirem uma posição mais conservadora, com boa rentabilidade.

“Mesmo antes de toda essa imprevisibilidade do governo, o câmbio por si só gera bastante desafio. Vários players foram embora. Nos últimos anos, o foco dos investimentos tem sido em tecnologia”, comenta Malouf.

Mas, apesar das dificuldades, o sócio da área de M&A do Machado Meyer ressalta que o setor de private equity é também um fomentador da economia local, seja por meio de M&A ou Oferta Pública Inicial (IPO, em inglês).

“O Brasil tem todas as ferramentas e variáveis para o crescimento. Se o investidor vir a sinalização correta, com as reformas que precisam ser feitas, o investimento volta. Se houver uma sinalização positiva, o mau humor passa e o fluxo melhora”, analisa Malouf.

Quais setores podem se destacar então?

Neste ano, o grande destaque do setor de M&A no país é a área de saúde, que vem passando por grandes dificuldades desde a pandemia, o que fez algumas empresas se juntarem para melhorar os indicadores.

A fusão entre a Dasa e a Amil, criando o segundo maior grupo hospitalar do Brasil, anunciada em junho deste ano, teve exatamente esse propósito, já que a rede de laboratórios tinha uma alavancagem alta, o que impossibilitava os investimentos necessários para crescer. 

Outra grande parceria envolve a Rede D’Or, maior rede hospitalar do país, e a Bradesco Seguros, que se juntaram para investir mais de R$ 1 bilhão para criar uma rede de hospitais em São Paulo e no Rio de Janeiro.

“Nem todo o investimento tem o viés de entrar para arrumar a casa, mas há quem goste de agregar valor à empresa. No setor de saúde, a Dasa e a Amil são exemplos com essa parceria. Um setor com muitas aquisições nos últimos anos”, ressalta o sócio do Machado Meyer.

Além do setor de saúde, tão em voga para M&A nos últimos anos, Malouf cita os segmentos de tecnologia, educação e telecom que sempre acabam saindo algum negócio, apesar do cenário adverso. “Embora exista esse mau humor, é um cenário de oportunidade, com bons negócios e investimentos.”

O sócio do Ambiel Advogados afirma que o Brasil continua atraente para investidores estrangeiros devido à desvalorização do real e o seu potencial econômico. Entre os setores promissores para os próximos anos, destaque para as apostas esportivas, que recentemente foi regulamentada pelo governo federal.

“Esse setor, ainda novo no cenário nacional, tem o potencial de movimentar altas cifras e atrair investidores. Além disso, os setores de saúde privada e de energia elétrica também apresentam potencial promissor”, conta Biglia.

Na América Latina, o Brasil lidera o ranking de países mais ativos em M&A durante o primeiro semestre do ano. Relatório elaborado pela Aon e TTR Data aponta 747 transações nos primeiros seis meses de 2024, uma queda de 27% em relação ao mesmo intervalo de 2023. Dentre as 365 transações que tiveram seu valor revelado, o capital mobilizado foi de aproximadamente US$ 20 bilhões, uma redução de 3% comparado ao primeiro semestre do ano anterior.

As maiores transações no Brasil estão nos setores de petróleo e gás e energia. A operação mais significativa foi a compra da Enauta pela 3R Petroleum e Maha Energy por US$ 1,49 bilhão. Na sequência, a aquisição da AES Brasil pela Auren Energia, avaliada em US$ 1,30 bilhão.

O mercado global

Uma pesquisa produzida pela consultoria global Bain & Company aponta que 38% dos entrevistados consideram que o mercado de private equity no mundo deve se recuperar a partir de 2025. O levantamento mostra que o declínio no volume de deals ao longo dos últimos dois anos se estabilizou em 2024 e os fundos de buyouts (aquisições) parecem caminhar para terminar o ano de forma estável em relação a 2023.

“A indústria de private equity parece já ter passado seu pior momento. É esperado que o volume de transações de 2024 seja equivalente ou superior ao de 2023 e temos um montante significativo de dry powder disponível. O desafio agora é obter mais saídas para que os investidores voltem a se capitalizar e participar de novos fundos, o que vem ocorrendo de forma limitada em razão dos baixos valores distribuídos para capital realizado”, explana o sócio e líder da prática de Private Equity da Bain na América do Sul, Gustavo Camargo, em relatório.  

Em 2024, o valor global de deals deve fechar em US$ 521 bilhões, um aumento de 18% em relação aos US$ 442 bilhões registrados no ano passado, conforme projeção da Bain. Já o número total de saídas tende a terminar o ano em US$ 361 bilhões, valor 17% maior que o ano anterior.


Source: Capital Aberto - Brazil 


Subscribe to our free newsletter: